Finalmente chegou o dia tão esperado, levantou-se cedo pela inquietação do momento, mas agora refazer o que sempre fazia.
Desceu e foi direto para cozinha, nada de novo do que sempre fez todas as manhãs...arrumou as lenhas no fogão cuidadosamente, o fogo tímido e pequeno lhe fez fixar os olhos...como hipnotizada pela chama...só saiu deste transe por um fugaz pensamento - teria que se apressar e a sim o fez...como faz sempre... arrumou a mesa para o café...deixou a cozinha com o agradável cheiro de café da manhã, pães esquentado na chapa do velho fogão... tamanha ansiedade... e por isso não tomou café. Arrumou a cama, ... na madrugada o frio causou-lhe arrepios, o sono de tão pesado a fez se encolher mais ainda; agora estava ali na frente da sua melhor roupa, sapatos bem limpos e brilhantes, delicado chapéu cuidadosamente colocado, uma gota de seu único perfume lhe fazia lembrar doces recordações, só o usava em ocasiões especiais...era a maneira de ter a felicidade que para longe se fora há tempos.
Se acomodou em uma poltrona no final do ônibus e passou a procurar no percurso raios de sol entrando pelas matas fechadas, ultrapassando a neblina e formando fachos de luz celestiais, reconfortantes de se olharem.
Chegou ao seu destino, subiu dois degraus e foi direto ao lado direito onde ficavam as miudezas, aviamentos, tecidos e pronunciou em voz firme:
-Bom dia, será que chegou alguma notícia?
O senhor cordialmente lhe acenou a cabeça e estendeu pequeno envelope, selado e bem escrito.
Com palpitações e tamanha ansiedade procurou reconhecer a letra grafada ao destinatário... avidamente virou para ver o remetente...lá estava escrito com caligrafia bem-feita e um pequeno trevo da sorte desenhado caprichosamente ao lado...seu coração transbordou de alegria...estava vivo...o que tinham combinado, o sinal que estava bem ali...pequeno desenho e imenso conforto - desenhado para ela reconhecer que iria voltar, ato de sobrevivência...esperança...até o fim da guerra.
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